musica

sábado, 28 de dezembro de 2013

A Décima Hora






Podeis me ver deste lado do mundo?
Balanço minhas mãos e braços
As águas são escuras, lamacentas
Peixinhos devoram palavras e desovam

Meus trajes estão desbotados, Uivos
Não se parecem com cães, talvez raposas
Lamentos, talvez não sejam meus
Você diz que ervas daninhas crescem

Um sol disforme aquece os grãos
Que irão germinar, são apenas embriões
É tudo tão insensato, diria mesmo insano
Teus pecados afloram como flores mortas

Basta-me um instante, dormirei apenas
E minhas lembranças viajarão , rápidas
Precisas como agulhas de uma bússola
Será que o que ouço são vozes ou espantos?

Não consigo respirar, o ar é pesado
Tudo o que resta agora são fardos 
Dispostos em linha sobre jaulas
Onde dormitam velhos leões preguiçosos.

                                                                        Dez.2013


terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Bocas e Panelas






Deixa estar, ainda haverá um lugar
Um juntar de bocas e panelas,haverá...
Deixa-me tentar, acho que ainda sei dizer
Palavras belas, e miro teus olhos.
Mesmo quando não consigo dormir,
Ou quando ando descalço pela casa, és tu
Que me vem à mente como flashes, flechas
Que incendeiam meu coração, deixa estar..
Ainda haverá um dia em um mês — talvez Maio
Deixe-me seguir teus passos, acender a luz
Afagar teu pranto, me encorajar, diluir
Meus pensamentos aos teus, te cuidar, deixa estar..
Ainda que o tempo passe rápido e me leve,
Ainda que eu não tenha coragem de viver
Nem mesmo para lhe dizer qualquer coisa,
Um dia, nas estrelas, haverá um lugar
Um juntar de bocas e panelas, haverá...
                                                                        Dez.2013

Circos e Vulcões





Enquanto eu tento compreender
O incompreensível, tudo passa
O vento, as falas, o circo e  outro amanhã.
Se ao menos ela me ouvisse  —  mas quem?
Sempre os mesmos passos, que me levam
Ao eterno vazio — Tanto faz, tudo me cansa
A beleza do luar, ou as ondas do mar,
As pessoas enlouquecidas, buscando,buscando
Coisas que jamais serão alcançadas.
Tanta dor neste mundo prenhe,
Tenho saudades dos vulcões e de florestas,
Faz tanto frio, as crianças dormem
E sonham com reinos encantados e fadas,
Meu estado letárgico me cansa tanto,
O Universo nem participa deste desencanto,
Isto é apenas meu, sou apenas Eu.
afinal, o que mais haveria....
                                                          Dez.2013

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

O bode Islamita



Viveu nos confins do mundo em uma época remota, um  bode – muito provavelmente um dos   primeiros , que queria muito deixar o cavanhaque para então  conhecer as terras santas onde Jesus havia nascido; todos os dias, olhava no espelho e ia acompanhando os pelinhos que apareciam no queixo. Logo em seguida  rezava o pai nosso e beijava a imagem de Cristo.
E assim foi durante meses e meses seguidos, mas nada de o cavanhaque aparecer e nada de conhecer a terra santa também; Então o bode cujo nome era Espaldonio, cansado de tanto esperar desistiu do cavanhaque e mudou de religião, adquiriu o Alcorão e virou o primeiro bode Islamita de que se tem conhecimento na história.
Diz a lenda que foi assassinado quando dava seus bodejos no muro das lamentações.
Desde então todos os bodes já nascem com barbicha!!

                                                                           Dez.2013

domingo, 1 de setembro de 2013

Reencontro



Mar tranqüilo, sereno,
Alguns anjos, em silencio
Emanavam vibrações
Aos que ficaram na terra.

Uma luz violeta, suave
Pairava no ar, etéreo,
Dando boas vindas
Aos que haviam partido.

Alguém chorava, no momento
Em que uma mão invisível
Tocava seus  ombros cansados.
Um ritual de amor e perdão.

Mar tranqüilo,  sereno,
Sempre na mesma direção.
Um som vibrava, fraco
Ecoando por todo o vale.

As mãos gélidas, imóveis
Cujo sangue, congelara,
Abraçavam o peito frio, nu.
Um acorde de despedida.

Era principio de outono
Meigo, triste, vazio.
Crianças brindavam o dia,
Como sendo o último.

                                                         Jan.2013

Fragmentos 5







Rios, cascatas, horizontes
Se foram para sempre, sempre.
Não basta reter o momento,
Quando só restam pequenos fragmentos.

A memória busca a chama
Que se acendeu noutro dia – A terra
Gira enfim, são só sinais,
Geometria, de vida e morte.

Frágeis são estas mãos,
Vento frio, manhã qualquer,
Estória de um conto de fadas
Onde o Rei nunca virá.

                                                  Fev.2013

sábado, 31 de agosto de 2013

Trevos




O meu amor transformou-se
Em cobras, florestas escuras
Nada nunca esteve bem –  Eu até pensei
Em lagostas, moinhos de trigo.

Eu até pensei que poderia
Caminhar como um fantasma,
Mas fantasmas somem de vista,
Enlouquecem-me.

Uma lua aparece no céu,
Tenho medo de luas, do pó
Receio nunca compreender
A vida e a morte.

A paz, será que a vi um dia?
Por onde andam as fadas
Que visitaram minha infância?
O que fizeram com o Rei?

Não me peça uma segunda chance,
A linha que nos separa é tênue
Mas não podemos ver – Escurece.
Um calor paira sobre a terra.

Sinto o frio dos fantasmas
Que rondam meus sonhos,
Meus olhos choram –  Gotas
De escárnio e solidão.

                                              Jan.2013

Linhas Paralelas



Linhas paralelas entre eu e você
Tortas, inexatas – cansei-me de tudo e do todo
De vossas teorias e de vossos acordes piedosos.
Atrás do armário escondem-se crianças mudas,
Sorrisos amarelados, há um bule no fogão
Uma foto de Cristo desnudo e incapaz,
Apenas átomos que passeiam pelo espaço louco.
Da janela, penso ver elefantes que passam
Entre fileiras de abutres que dissecam o corpo,
Nu – Cristo em toda a sua glória perdida
Desenhando em um papel  seus temores.
Tudo é estranho, tudo cheira a enxofre e morte,
Todos estão tranqüilos, festejando a noite         
Ratos, formigas, fetos esbranquiçados  , uma garrafa
E restos de um outro dia , esquecidos no tempo.

                                                                Agosto/2012

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Neon



Raios, Luzes, Neon
Folha em branco, imagem
Sonhos, mariposas mortas.

O sol se foi
Para sempre, sempre.
Mesa vazia  – Velas.

Naves voam, o céu se fecha
Gotas de sangue
Em forma de lágrimas.

Segue o Rei
Riacho abaixo, canta
O canto do esquecimento.

Mãos se tocam,
Juntas tecem a sinfonia
Do eterno adeus.
                                            Jan.2013

terça-feira, 12 de março de 2013

Pitágoras




Pitágoras acordou cedo como de costume e preparou seu desjejum, como fazia sempre, depois de haver defecado na horta de sua mãe, que cultivava couve, pimenta, hortelã e uma alface que ele sempre achara estranha, pela sua coloração um tanto amarelada; Hortência, sua mãe, lhe dizia  que era uma alface vinda de outras terras, mas daí a acreditar que este era o motivo de sua cor era uma outra estória, até porque Pitágoras sabia o quanto de seu próprio estrume havia naquela terra.
Carregava dentro de si uma mágoa profunda de sua mãe, por ter lhe colocado um nome que sempre lhe causara constrangimentos, principalmente na escola, entre seus amiguinhos; Em uma pequena cidade do interior, onde a pequena população mal sabia ler e escrever, um nome como aquele causava muita estranheza em todos. – Pitágoras, meu filho, foi um discípulo de Jesus, dizia Hortênsia, e nessas ocasiões ficava perturbada por não se lembrar direito de onde tinha vindo tal idéia. Teria sido de seu marido? ‘Deus o tenha’, pensava Hortênsia. O pobre homem morrera cedo, um dia antes de completar 38 anos. Naquela manhã Nicanor preparou a marmita que levaria para o campo, era época da colheita do café e os patrões estavam esperançosos em conseguir uma safra boa, ‘haveriam de conseguir comprar um trator novo e guardar um dinheirinho no banco’, diziam entre si marido e mulher toda noite antes de dormir. À tarde vieram avisar que Nicanor tinha sido picado por uma cascavel e morrera. Teria o nome sido idéia dele? Tornou a pensar Hortênsia. Pitágoras por sua vez não conseguia acreditar em sua mãe, pois  nunca tinha escutado o Padre citar o seu nome na missa, além de que, seu vizinho Benedito, o ‘Bentinho’ como o conheciam, várias vezes havia lhe dito que aquilo não passava de invenção de  sua mãe.’Hortênsia vive imaginando estória’, dizia Bentinho.
 E naquela tarde tudo ocorrera rápido demais. – Pitágoras! Ouviu sua mãe chamar e quando entrou em casa, encontrou-a caída no chão da cozinha. No fogão uma panela de pressão chiava e exalava  um cheiro de feijão com toicinho, o velho gato amarelo olhou para ele quando entrou, se esticou todo e  voltou a dormir, ao longe se ouvia o cacarejar  das galinhas e no abacateiro dos fundos do quintal um pássaro com penugem amarelada, emitia leves trinados. Sua mãe era hipertensa, mas Dr. Timóteo, o médico da vila, receitava-lhe sempre pírulas para dormir, achando que era um problema de nervos ou  mais um caso de velhice mal aceita. “Quem sabe os dois”, dizia o doutor para sua mãe, nas vezes que vinha visitá-la. Dr. Timóteo não era muito velho, mas já tinha os cabelos ralos e uma cabeça pequena em comparação com o seu corpo gordo e pesado. Usava um chapéu de palha, que deixava seu grande nariz realçado no meio de um rosto rosado e com rugas abaixo dos olhos. Usava óculos quando queria ler alguma coisa, fumava um cachimbo que Pitágoras achava fedorento e sempre acabava ficando  para o almoço.
Hortência veio a falecer no mesmo dia, deixando-o órfão, com as parcas economias dela, que representavam privações e sacrifícios, muita fadiga e trabalho.As pessoas diziam, ‘pobre Pitágoras, Coitado do Pitágoras’, ‘O que fazer com Pitágoras?’ E Pitágoras, assim que se acabou o pouco que deixara sua mãe, teve que se virar com os dízimos dos vizinhos, que matemática alguma explica como conseguiu.
Dr. Timóteo segue ainda medicando laxantes, pírulas e ventosas. Seu diploma já amarelado permanece  na parece mofada de sua casa vazia e sem vida                                                                                            
                                                                                     Agosto.2009

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

O relógio



O relógio de parede anunciou 3  horas, com o velho passarinho de madeira, arrasado por cupins e pelo tempo, movendo-se lentamente portinhola afora, sem emitir, porém, o som típico dos cucos de madeira. Willian lembrou-se daquela manhã cinzenta na praça central da cidade, onde iria pedir em casamento aquela que seria mais tarde sua esposa. "Fazia frio, crianças agasalhadas brincavam pela grama ressecada, um velho senhor tocava uma gaita em dois ou três tons repetitivos, um balão vermelho e branco passou voando por ele, indo enroscar-se em uma árvore, de onde alguns passarinhos ensaiavam um tímido canto".
"Horas antes, tomara um banho, - ainda podia sentir o perfume do sabonete no ar - pusera o seu velho jeans já um tanto desbotado nos joelhos e na parte de trás, aquela camiseta estampando um desenho surreal, com silhuetas seminuas, arco-íris, pássaros com asas em forma de violões e seios e um rosto  maior com longas barbas e com a boca escancarada, de onde saiam notas musicais e flores".
Quanto tempo havia passado e agora, sentado na fila do meio, na cadeira do meio, no meio do cinema , enquanto aguardava o início do filme, tudo lhe veio à mente, tão nítido, tão calmas e reais as imagens, vagou os olhos para as poucas pessoas nas filas à sua frente, no momento em que a senhorita da segunda fila, à direita de um homem com ares de importante, óculos multifocais e um terno preto impecavelmente amassado, levantou-se e caminhou em direção à saída, olhando de soslaio para a grande tela empoeirada, de onde bailava o cuco, impávido e triste.
                                                            Fev.2013

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Café da manhã



Certa manhã um pernilongo cochilava sobre as rendas de uma cortina amarela, com flores enormes, de um quarto luxuoso com mobília do mais fino gosto. Um sol tímido despontava por entre as folhas de um enorme abacateiro, plantado talvez de propósito defronte ao quarto, na época em que a enorme casa fora construída; O idealizador do projeto, do plantio do jardim e do pomar, já descansava no cemitério da cidade, e era pouco lembrado, desde a sua partida. Em seu túmulo havia uma inscrição, que lembrava um poema de José de Alencar, um busto de Cristo em seu derradeiro sofrimento, já um tanto gasto pelo tempo e algumas luzes coloridas, já queimadas há anos, que foram colocadas ali a mando do próprio falecido, quando em vida e que outrora acendiam todo mês de dezembro, dando um certo ar festivo ao cemitério, talvez para lembrar aos que  já haviam partido, que era natal!
Da cozinha, vinha um cheiro delicioso de café, um som de chuveiro no andar de cima, uma TV ligada e a empregada terminando de por a mesa.
O inverno se fora, despontava a primavera, tímidos raios de sol adentravam agora pelas frestas das janelas semi-abertas.
O pernilongo continuava imóvel em seu cochilo, sobre a cortina.
                                                                                  Fev.2013

A serpente



Um dia, uma serpente, muito faminta que estava, resolveu que teria uma dieta vegetariana naquele dia, não tanto por razões éticas, mas mais por estar ficando com o corpo um tanto quanto inchado, de tanto engolir sapinhos, pássaros, peixes e outras criaturinhas.
Foi rastejando mata adentro, até que encontrou uma macieira, repleta de frutos; E eram tão lindos que ela até se lembrou daquele pecado capital do qual os homens falavam sempre. Então eis que começou a chover e a serpente, resolveu se abrigar em um buraco ali perto, que por sinal era a toca de um porco espinho.
O pequeno porquinho ficou assustado com a serpente e soltou dezenas de espinhos que foram se cravar na pele da serpente, que de tanta dor, saiu em disparada pela relva, só parando quando o dia amanheceu.
Dizem as más línguas que a velha serpente nunca mais quis saber de maçãs.
                                                            Jun.2011

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Velho Casarão, ratos, pastores





Em um sótão abandonado de um velho casarão estilo colonial, vivia um rato cujo nome era Oscar; Pelos finos, brilhantes, olhos vívidos e uma boca pequena enfeitada por lindos bigodes.
Oscar saia todas as noites para procurar seu alimento e também para tomar a brisa noturna, olhar o céu e meditar sobre sua própria existência.
Próximo dali, uma família fazia sua ceia habitual, uma mesa repleta das mais variadas guloseimas; Oscar sabia que o casarão em que vivia em breve seria demolido e que teria dificuldades em conseguir nova morada... sentia saudades de seus pais, mortos pela ingestão de iscas, colocadas propositadamente próximo de onde moravam, por aqueles gigantes de roupas escuras, com suas botas pesadas e cheirando a morte.
Restaram ele e mais nove irmãos, seis esmagados pela botina do homem gordo e suado, dois afogados na enorme bacia branca do banheiro do casarão e “Nicolas”, o último, e o mais franzino de todos, servira de alimento a um velho gato cinza que, volta e meia por ali aparecia.
Era época de natal, luzes eram colocadas nas grades e nas pobres das árvores dos enormes edifícios; Oscar ficava encantado com tantas luzes e com o imenso colorido, piscava os pequenos olhinhos e ficava imóvel por um longo tempo, observando os carros, as pessoas apressadas, faróis, vozes, luzes!!!
Jamais compreenderia o porque de tantas luzinhas coloridas piscando, o porque de não deixarem as árvores dormirem em paz....
“Aleluia!” gritou o pastor, e seus fiéis em coro repetiram “Aleluia Senhor!”
A igreja estava cheia naquela noite, toda sexta feira era assim, jovens, velhos, crianças compareciam em peso para o louvor da noite e para ouvirem o sermão do pastor Jesivaldo.
Naquela noite, Jesivaldo falou sobre a mulher adúltera, do casamento, da união estável, de Jesus e sua célebre frase “Que atirem a primeira pedra”. Muitos ouviam atentamente, principalmente os que sentavam mais à frente.
Lá no fundo, cochichos, cochilos, bocejos, crianças cansadas e resmungonas, um verdadeiro embate entre Deus e o Capeta.
Em breve as máquinas dariam início à demolição do velho casarão.
                                                                                               Fev.2013                                                  

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Oito Poemas Iniciais



Do Desconforto

Lá fora o calor é forte
Qual meus braços de outrora.
Quero que ouças o silencio
Desta grande multidão à toa,
Que teima em não entender
E cujos gritos não ouço.
Eis-me agora , minha flor
Inadequado a este furor tolo,
Canso-me de pensar em ti
Mas sei que nunca existimos.
Talvez seja este papo inexato
Sobre eras, esferas, dimensões,
Sei lá, não sinto tristeza
Nem consigo lhe esquecer hoje.
É como se fossemos os dois,
Grandes bonecos infláveis, falíveis.
Ouço vozes, crianças, carros,
Tudo talvez  esteja por um fio.
Você segura a tesoura agora,
Ou quem sabe eu.

Das Virtudes

Nunca atirei a primeira pedra
Nem pude deixar de pecar.
Destes atos fracos, loucos
Que me fazem repensar ,
Em tudo que nos disseram ontem.
Estava ainda escuro, cansei-me
Destas visões estranhas, sou tua parte,
Que apodrece na esfera virtual.
Gosto de ti, como gosto
De tantas imagens que passam.
Como podemos falar em amor
Neste lado da vida, a esmo.
Piso nos canteiros que lhe fiz,
Enterro teu passado e digo
Que me atire a primeira pedra.

Dos Sete Cavaleiros

Os reis voltaram em prece
Não faz sentido orar agora,
Pois me querem de volta
Para a batalha sangrenta.
Teus olhos me espreitam e dizem
Coisas singelas, tua infância,
Teus desejos, a obra prima
Que acaba de conceber, chora.
Clamo pelo poder dos céus
E também pela tua alma.
Anseio o campo de batalha,
Onde os sete cavaleiros
Me aguardam.

Do Reencontro

O campo está minado
Batem palmas para quem?
Estes sonhos que não voltam,
É estranho agora, ninguém vê.
São sombrios estes momentos
Não há chuva, não há sol,
Apenas pensamentos.
Encontro um bem-te-vi
Somos primogênitos,
Ansiamos pelo amor
Quando do reencontro.

Das Fraquezas

Diz-me das proezas agora
Como se eu quisesse saber,
Mostra-me a verdade oculta
Neste manto de pérfidas injúrias!
Estamos juntos,
Neste caminho tolo e cruel.
E por mais que não percebamos
Caímos sempre,
Perante as fraquezas
Que nos espreitam, sorridentes!

Dos Mistérios

Procurei por entre textos, mantras
O sentido de tudo que me rodeia,
Vivi a sensação de observar
Com os olhos do Supremo Ser.
A cada dia, novos instantes,
Novas cores, novos sons.
Vesti-me com tua ilusão e
Vi-me tremendamente só,
Enquanto você sorria para mim
E aguardava o momento de ser feliz.

Das Incertezas

Permaneço neste vale escuro
De incertezas , procurando-te.
Verdade das verdades, fogueira
De vaidades, o eterno amor.
Meus pés afundam lentamente,
O céu se cobre de nuvens.
Estas incertezas que torturam
O meu ser, fecham minha estrada,
Por onde pensei um dia te levar
E mostrar-te o caminho para o sol.

Do Auto-Extermínio

Firo a alma, pálida mortalha
Me espreitam os andaluzes,
No horizonte onde paira a morte.
Firo o corpo e jorra o sangue,
Que um dia me deu a vida
E fez com que eu pudesse te amar.
Estas sensações me enlouquecem
Estas visões de tudo ao meu redor,
Causam-me aflição e você se foi.
Você se foi quando eu mais te quis
E sem saber, jogou fora seu dom
Mais precioso, dom se ser mulher.
                                                      
                             Escrito entre fins de 2007 
                       e início de 2008

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Cogumelos gigantes







Cogumelos gigantes aparecem
Em meus sonhos ....  Leais,
Como súditos em volta do Rei.

Desesperança, insensatez, tédio,
Devoram  o coração fugaz,
Sentença de vida e morte.

Tic tac, tic tac,
Ouçam as vozes que ecoam
Vez ou outra pelas paredes.

Parecem mágicas as faces
Destes anjos, maltrapilhos,
Estão todos à mercê do traidor.

Gritos de dor saem de meu peito,
Por onde um dia jorraram
Pétalas de paz e de amor.

Sílabas, sussurros, silêncio,
O passado ecoa, triste, fúnebre
Em um filme mudo, perdido.

Tuas mãos frias me tocam,
Lábios à espera de um beijo
Frio, úmido como um pântano.

Eu não lhe conheci, deveras,
Minha juventude bebia o licor
Que engana e entorpece a alma.

Quem me trouxe à vida um dia,
Se foi sem nada dizer –  Nostalgia.
Alguém acenou-me lentamente.

Promessas nunca cumpridas,
Olhares nunca trocados – Compaixão.
Dois cães andam pelos campos.

Tropeço em meu próprio destino,
Sorvo o ar que me resta, enquanto
Os cogumelos gigantes adormecem.

                                                      Jan.2012

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Translúcido



Sentença inacabada
Flores descoloridas, Desejos
Inconformados, selvagens.

Mas aonde irão agora
Estas almas, feito chamas
De um fogo que arde?

De um jeito disforme
Duras pedras partidas
Em pequenos fragmentos.

Pontuais encontros – Vazio
E a sensação do eterno
Ou do improvável.

                                         Jan.2013

Fragmentos 3



Vi-me virar poeira
Tão fina, sem forma ou cor.
Em teu espelho,
Fantasmas sonham.
Uma luz fraca recai sobre o feto
Que sonha com a morte.

                                             Jan.2013