musica

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Rabiscos






Rabiscos da vida, do que me diz
Rabiscos de tudo ou do  nada,
Rabiscos do além ou de alguém
De um sorriso, da dor.
Rabiscos de um querer,
De uma criança, um quintal
Rabiscos do avesso, de um fruto, do pão,
De um rosto perfeito.
Rabiscos, rabiscos
Rabiscos que faço na mesa,
No café, no fim de um verão,
Na cidade, na neblina, ou
Na fumaça de um caminhão.
Rabiscos de tudo ou do nada
Meras visões.
Rabiscos loucos, entrecortados
Nas esquinas, nos bares, solidão.
Rabiscos, uma forma qualquer
Da sala ou do quarto,
Do amanhecer, a voz da razão.
Rabiscos de gritos, do canto do pássaro
De uma dor, sensação.
Rabiscos da alma, da fonte
De uma luz, quimeras ou não
Rabiscos que fiz um dia,
Ou que ainda traço,
Em alguns momentos de ilusão,
Rabiscos da vida além vida
Rabiscos de um bem querer,
Dos sonhos vividos, sonhados
Ou dos sonhos que não sonhei.
Rabiscos que trago na mente
Traços da vida, da morte que ronda,
Ou de alguém que nos vê... 
                                                       31/01/11

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

O cavalo e a lesma



Um dia, um cavalo estava pastando nos gramados do castelo imperial, quando uma lesma, olhando para cima disse:
-oh cavalo! Você gosta de escargots?
O cavalo, como se julgava muito esperto, logo pensou que era uma pegadinha e respondeu: -Quem caga sou eu e quem come escargot és tu. Dona lesma baixou a cabeça numa tristeza até então não vista e seguiu seu caminho, pois pretendia chegar em casa, um tronco de aroeira,antes de cair a noite, e o cavalo ria, ria, ria tanto que os pássaros desapareceram do céu e grossas nuvens se formaram, em  um grande prenúncio de tempestade.
                                                                  Jan.2011

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

PODE SER






Pode ser
Que eu esteja enganado
A respeito do amor
Pode ser
Que eu veja apenas o que  queira
Ou aquilo que os outros não vêem.
Pode ser que você me odeie
Pelo que não lhe prometi um dia
Ou pelo beijo que não lhe dei,
Pode ser...
Pode ser
Que ainda descubra o amor
De uma maneira diferente das outras,
Ou talvez pare diante de uma dúvida
Pode ser
Que eu faça uma canção que diga
De promessas, amores e pessoas
Ou do dia em que fui feliz...
Pode ser que hoje eu lhe diga
Mentiras e verdades, sobre coisas
Do pouco que sei, nem poderia me enganar.
Pode ser
Que me sinta um tolo diante do espelho,
Que feche as portas de meu coração
Para sempre.
                                                         DEZ/2007

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

UMA NOITE DE SÁBADO

Bons dias aqueles, em que soltava papagaios e brindava o fim do dia com o café que minha saudosa mãe preparava todas as tardes.
Havia passarinhos de muitas espécies e de muitas côres, - que alguns mal avisados ainda tentavam capturar. Ruas de terra, como era bom...Andar descalço e poder contemplar a água da chuva, que corria festiva pelas beiradas sem guias daquelas ruas, perdidas no tempo!.E os vaga-lumes que enfeitavam as noites lindas de verão, hoje praticamente extintos nas grandes metrópoles.
O ar devia ser tão bom, - digo devia, pois hoje sei o que é sentir o pesado cheiro de gazes poluentes,misturados ao odor que sobe dos bueiros entupidos e sujos desta grande metrópole!. Mas imagine só se um menino em tenra idade como eu, iria se preocupar em saber se o ar era puro, - e é claro que era. Não me lembro de ter contraído nenhuma doença mais grave do que uma gripe ou resfriado, não havia rinites alérgicas, doenças respiratórias, viroses, dengue  e tantas outras doenças que hoje nos assustam, graças ao que fazemos com o meio ambiente em que vivemos.
Ainda a pouco fui ao supermercado, noite de sábado! Muita gente e um consumo que me fez verter uma lágrima tímida em meio à multidão que feliz e festiva, enchia seus carrinhos e aglomerava-se nos locais de doces, salgados, assados....Tudo uma grande festa!
Parei em frente aos “sonhos” e fiz menção de pedir um, mas vendo aquelas embalagens plásticas que a atendente “sem qualquer sentimento de culpa”, usava para atender aos consumidores, sendo que para cada quantidade, lá ia ela e apanhava uma embalagem brilhante e límpida para guardá-los, - Isto por tantas vezes que perdi o desejo de levá-los.(confesso que tive vontade, mas achei melhor não ter que, à custa de um prazer momentâneo e fugaz, abandonar aquela embalagem em meu cesto de recicláveis. Consegui dizer não e senti-me vitorioso, pelo menos naquela hora.
De volta para casa, cruzei bares em ritmo de festa, bebidas, petiscos, fumaça subindo aos céus, vinda das motos coloridas e carrões enormes dirigidos por pessoas apressadas e perdidas em meio à confusão de um sábado louco e descomedido.
Tenho a sensação, para não dizer “certeza”, que nós seres humanos chegamos ao limite considerado suportável, e que o nosso planeta está em vias de tomar as rédeas do processo que gera a vida e o amor.
Quantos de nós pereceremos pelas catástrofes que hão de vir, em qualquer hora destas, pois não se pode imaginar que uma terra que é sugada de seu sangue      - chamado petróleo - , de suas energias - chamadas florestas  e minérios - , de sua vida - chamada água -, possa ficar à mercê de nós, tão pequeninos! É de se esperar alguma reação, em pró de uma sequência cósmica que não pode ser revertida, em pró de tantas vidas que aqui vieram habitar, em pró do Amor!
Sinto saudades da minha infância, dos papagaios e das chuvas torrenciais que caiam e que faziam minha querida mãe acender ervas benzidas nos dias em que trovoes e raios despencavam em uma musicalidade linda, que eu adorava.
Hoje virou moda se falar em meio ambiente; Mas é estranho como, paralelamente a tudo isto, continuam os anúncios de cervejas com suas latinhas de alumínio, de carros cada vez mais velozes e modernos, de celulares de última moda, com suas baterias descartáveis, com empresas apelando para o  “falem à vontade”, e que se dane o mundo em que vivemos!  Estranho como uma minoria “em que eu me incluo”, recicla seu lixo, como se isto fosse a mais nobre ação do momento, e se esquece que não basta apenas reciclar,  - poderíamos evitar ao máximo o uso de tais produtos ou mesmo não usar! ..E do outro lado, a grande maioria, mais de 95% ainda consome desenfreadamente, joga seus restos aleatoriamente, como se esta ação diária fosse a coisa mais normal do mundo;  Estranho como os canais de comunicação que detém o poder sobre grande parte da população , continuam a veicular anúncios sobre refrigerantes e cervejas,com suas latinhas coloridas,produtos de consumo inúteis em caixinhas e potinhos descartáveis novos modelos de celulares, enfim... A ambição e a insensibilidade falam mais alto nestas horas.
....E neste exato instante em que escrevo sobre meio ambiente, e coisas que tais, sinto-me patético e um tanto quanto culpado também; Enquanto revejo minha infância, e vos falo de chuvas abundantes, de céus estrelados, de vaga-lumes e papagaios, de tardes quentes e alegres, cá estou eu a bebericar uma cerveja de “latinha”, teclando em meu  “computador” e tendo guardado um pequeno estoque de sacolinhas  de supermercados.
                                                                                                       jul.2006
                                                                                                                       

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Duas raposas









Duas raposas passeiam pelos prados
Ao longe se avista a aldeia
Cantos matinais, folguedos juvenis
Pássaros cantam, o rei vive.
Por toda a eternidade, o rei viverá.
Nossos corações são varonis,
Repletos de sentimentos nobres,
Que deixam rastros pelos ares.
Lavadeiras esfregam roupas
Dos que saíram para a labuta diária
São jovens, belas, amorosas
São filhas de Deus, naturais e mães
Sabem da dádiva que receberam.
O povo canta, o rei vive,
E viverá para todo o sempre.
O rei nos ama e vive em solidão,
Apregoa o que julga certo,
Mas tua alma anseia pelo amor
De camponesas juvenis, chora.
O sol é festivo, o povo canta
Ladram os cães, o rei sabe
De sua nobreza, veste seu manto
E passeia pelos bosques,
Onde duas raposas dormem.
São altivas, como o rei
Que sai para passear, só.
Para observas as jovens mães
E sonhar o sonho dos mortais,
Que não entendem a linguagem
Das raposas.
                                 NOV/2007
                                      

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

SOBRE DEUS OU “A MENOR PARTÍCULA”

Procuramos Deus nos céus,nos mares, procuramos Deus através de nossa própria imagem e semelhança, - Qualquer semelhança será pura coincidência , procuramos Deus nos acordes musicais,nas inspirações,na arte, procuramos Deus nas orações, nas sinagogas, no êxtase,no momento do amor, ....procuramos Deus em grossas enciclopédias,manuscritos, através da história sem começo nem fim.
Talvez, quando chegarmos à menor partícula de todas, se é que chegaremos um dia a esta unidade, lá esteja Deus, e talvez, através de movimentos cíclicos eternos, esta menor partícula, ou Deus, se transforme novamente  em todo o Universo, e assim sempre e sempre

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Teu lado esquerdo chora






Teu lado esquerdo chora,
Os momentos que não pudemos
Teu olho esquerdo diz,
Dos momentos  que não ousamos
Tua face esquerda cora,
E quando me vê,  disfarça..
Tua noite é insônia, clara,
Tuas mãos procuram
Teu peito chora,
As verdades esquecidas
O amor que sempre existiu.
Tua vida é vazia,deveras,
Teu semblante guardado
Em meu coração.
Teus sonhos são inverdades
Tuas falas, nostalgia
Teus dias são tão longos
Da mais pura agonia.
Teu olho esquerdo me fala
De coisas que não me diz,
Teu lado esquerdo chora
A distância , incertezas, o vazio,
O momento derradeiro, a paz
Que só  a morte diz

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Feliz Ano Novo







Fecho os olhos e tento dar espaço ao vazio, vazio do qual faço parte; Não quero mais remontar cenas distantes; a distância me deixa vago e lhe vejo novamente nas nuvens de minha consciência perdida.
Deixei de te dizer, deixei de te ver, abandonei aqueles que me foram caros um dia; Alem deste instante, nada mais importa, não vou e nem quero viver um tempo suficiente para que eu possa tentar lhe rever.

A noite é calma, não comecem a incomodar o Cosmo com seus barulhinhos anormais. Falta-me muito para alcançar o início da rota traçada por mim mesmo desde todo o sempre, mas ainda gostaria de lhe tocar por um instante, sou cego às tuas apreensões e aos teus desejos, sou teu escravo para sempre.

Não vou falar em 7 leis espirituais de chopra, nem de frases de Yogananda, muito menos de Nietzche ou Dostoiévski, nem de Cristo ou Buda

Aliás, nem ao menos sei se o sermão da montanha foi realmente um sermão ou se foi realmente dito em uma montanha.

Um salve a todos os irmãos que padecem da fome do saber e do entender as coisas que nunca poderão ser entendidas, um salve aos nossos irmãos de outras espécies que ainda podem respirar o ar deste momento.

Um salve aos meus amigos espirituais que estão espalhados pelo planeta terra e que Oxalá consigamos deixar de tentar entender o que não pode ser entendido, deixar de buscar o que não pode ser buscado  e deixar de sonhar sonhos irreais.

Oxalá nossos desejos possam ser desfeitos como os sonhos de uma noite anterior, e que possamos nos esquecer.

....E que esta noite deste dia 31 possa ser como o primeiro dia subseqüente do que resta de nossas vidas.


                                                           31.12.2010
                         Ao meu saudoso irmão e à minha querida mãe 

                                                           Reeditado em 31.12.2012 - ...Ao querido Pixú                                                               

PAPAI NOEL FICOU NA TERRA





Ele parecia não me reconhecer, apesar de eu insistir para que me desse um presente. - Gostaria muito de olhar em seu grande saco e verificar se realmente havia presentes para todas as crianças da face da terra.
Finalmente aquele homem embriagado e barrigudo, largou  o cigarro em cima de uma rena, que gritou de dôr , e disse-me: - vê se para de me encher o saco!!
- Crianças são tantas e eu não possuo tantos presentes. Só entrego para aquelas, cujos pais compraram antecipadamente!
Então eu desliguei a minha tv e fui dormir com um sentimento estranho. Naquela noite sonhei muito com aquele barrigudo sem vergonha. No sonho, ele me dizia palavras indecorosas e abria sua braguilha para que eu visse aquela coisa mole e nojenta..
Naquela manhã, tomei o meu café matinal, com jaca e água de coco e a morte apareceu em meu humilde lar e levou-me sem uma palavra sequer.
- Acho que o papai Noel se ferrou, pois ficou na terra com seu saco indecoroso e sua grande barriga oca!!
                                        Achei este conto estúpido escrito na véspera do natal de 2006..