musica

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Ritual










Madrugada negra sem mistério
Não há pão na mesa nem o vinho –
Os apóstolos assim o quiseram.

Você não me ouve mais
Minha voz ecoa morta
Pelos ares repletos de fumaça.

Olham-me do outro lado do espelho
Tenho a sensação de ser você –
Banquete de sanguessugas.

Um último abraço  – Esqueci-me
Crianças jorram nos hospitais
E se enfileiram nas creches solitárias.

Por que se vai? – É tão cedo ainda
Muitos sóis virão banhar os dias
Sucessivos e sem graça.

Meus pecados pagos um a um
Nas mãos do idólatra, a auto piedade –
Trincheiras pálidas como a morte

Empurro o carrinho ladeira abaixo
E você às vezes me olha
Seu espanto me assusta agora.

Subo lentamente os degraus
Dos pensamentos e sonhos
Na esperança de lhe ver.
                                                         Abril.2015
                               Em memória de Thomaz Dias Saletti
                                     *29.04.1989 +25.07.2011

sábado, 25 de abril de 2015

Crônica - O Sol que brilha por aqui





Venho pensando cá com meus botões, sobre esta euforia que de uns tempos para cá tomou conta das cabeças dos jovens, que deixam seus lares para se aventurarem mundo afora; ouço esta manhã alguns pássaros que dão um viva ao belo dia, repleto de sol, as pessoas estão felizes, com seus rádios a todo volume, decerto as praias estão lotadas, com famílias bebericando refrigerantes, crianças deixando aflorar  a liberdade que anseiam sempre, enquanto podem ser crianças.
Ouvindo agora Jean Luc Ponty, esta alma magnífica, nascida em terras Francesas, a mesma terra que nos doou Kardec; Este músico que encheu meus ouvidos de paz e que levou-me a viagens extraordinárias lá pelo final dos anos 70, com seu violino mágico, “dizendo sobre planetas, galáxias, amor, crianças, e moradas distantes, provavelmente”.
Então lembro-me de minhas aventuras, por praias do litoral norte, belíssimas e enigmáticas, pelas planícies do planalto central, pelas estradas desertas na época, pelos por de sóis lindíssimos que curtíamos em tardes melancólicas; Claro que sempre tive uma certa ânsia em ver de perto as pirâmides e alguns países do oriente, por onde passaram Cristo, Buda, Gandi, enfim...mas com o passar dos anos, minha alma foi se acalmando e aprendi que os melhores momentos são os que passamos com nossos amigos, filhos, e pessoas da família que nos são caros; Milhares de jovens se comunicam através de seus celulares ultra radioativos, ou pelos correios eletrônicos tão em voga hoje; atravessam fronteiras e cruzam países, com a mesma facilidade com que cruzávamos a balsa de Bertioga, em feriados prolongados; misturam um misto de solidão e euforia pelos Euros ganhos com muito sacrifício, encontram seres, que aprendem a amar e muitas vezes , acabam por lá ficando, casando-se, tendo filhos e os que deixaram para trás, são revistos através de fotos ou de tempos em tempos, quando de passagem por aqui.
Sentem na pele o inverno rigoroso,  adaptam-se a novas maneiras, a outras comidas, vivem o silencio e muitas vezes a aspereza de outros povos , amontoam milhares de fotos digitais, mandam beijos e lembranças, e nas noites frias e vazias, costumam chorar no silencio de seus quartos.
É a grande, voraz e inexata globalização, que leva nossos jovens , atraídos por ilusórias promessas de ganho e estabilidade, outras vezes para fugirem da violência que toma conta de nossas cidades.
Nesta manhã, enquanto rola o Jean Luc Ponty, o sol tenta entrar em meu quarto, cujas cortinas mantenho fechadas - por estar um tanto quanto deprimido ,  um pássaro solitário canta alegremente, saudando este dia lindíssimo; Me lembro então  daquelas praias, de meu corpo dourado e das matas exuberantes, penso nos que estão distantes e sumidos e chego à conclusão que o sol que brilha por aqui não é o mesmo sol que às vezes brilha por lá.
                                                                Abril.2006






domingo, 19 de abril de 2015

Bem Aventurança










Diga-me o que fazer
Quando a noite desaparecer
Quando a música terminar

Conte-me o que souber
Quando eu não mais puder
Acreditar em meus sonhos

Quantos dias ainda faltam
Para que eu esqueça – Laços
De ti que já se foi um dia

Joias raras se perdem para sempre
Sinto-me cansado para vê-las

Um resto de som paira agora
E eu me lembro de você
Sempre a mesma imagem – Dor

Lembre-me de não te perder
Jamais de minha mente – Os justos
Saberão dissipar nossa tristeza

Teus passos ecoam na sala
E um aroma doce faz verter
Lágrimas que devoram o que restou

Diga-me o que fazer
Quando a noite desaparecer
Quando a música terminar

Joias raras são roubadas sempre
Não posso resgatá-las – Restos

Conte-me o que souber
Quando eu não mais puder
Acreditar em meus sonhos.
                                             Abril.2015








Harold - O Anjo -



Pela porta aberta vejo
Que não sois a mesma

Seus brinquedos estragados
Guardam segredos da infância

Às vezes penso em entrar
Pela fresta de luz amarela

E teus ouvidos não saberiam
Distinguir entre a luz e o sapato

Sei que morri e nasci mil vezes
Mais do que poderia suportar

Poderia lhe ensinar uma canção
Ou falar sobre meus antepassados

Você dorme como um feto
E o mesmo anjo lhe guarda

Ele sabe que posso vê-lo
Mesmo assim não me sorri
                                                Mar.2015