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sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Os Três Bois ou Sangue na Manjedoura




Três bois discutiam sobre quem seria o próximo a ser abatido pelo homem de cavanhaque e botas longas;
—  Acho que serei eu, * disse o primeiro —  Afinal, sou o mais velho, e minha carne já não Será tão atrativa muito em breve; E pelo que me consta “nossos donos”, não podem perder dinheiro nesta brincadeira sem graça.
— Brincadeira, Você disse! — como pode chamar isto de brincadeira Caro colega?
— nossas vidas estão por um triz, eu é que não vou chamar isto de brincadeira, e sim de uma fúria imoral. — Amigo, acho que serei eu o próximo, pois apesar de ser mais novo que você, tenho mais peso, como muita ração e prejuízo é uma palavra que passa longe daqui. — sim, serei eu, *disse o segundo boi, com lágrimas nos olhos e um ar de desespero que tocou profundamente o mais velho.
O terceiro boi, que a tudo ouvia, era o mais novo da turma, ainda em fase de crescimento, tomou da palavra e assim falou: —  Caros amigos, com certeza o próximo a ser abatido serei eu!  — Afinal comemora-se entre os humanos a data em que um deles nasceu há muito tempo atrás e que depois seria morto pelos de sua própria espécie. E além disso, minha carne é apreciada , por ser macia e tenra, segundo dizem...
— Mas o que tem a ver o nascimento de uma criatura de outra espécie, ser comemorado com nossa carne? * resmungou o segundo.   — Se ao menos se alimentassem dos de sua própria raça ainda vai, mas nós! – o que temos a ver com isso? * Ruminou o primeiro. 
— Não sei, não sei... * choramingou o mais novo. — E vamos silenciando, que nosso algoz está vindo!.
Tarde quente, o sol se recolhendo e uma brisa suave sobre os campos; Meninos brincando sobre a relva, pássaros silenciosos em meio a lamentos vindo do curral.
Uma tarde de dor e sangue.
                                                         Agosto/2012
                    

domingo, 12 de agosto de 2012

À Deriva



Sentimentos nascem e morrem
Risos se transformam em lágrimas
Mentes ociosas —  brinquedos se quebram.
Uma coruja se balança em um fio invisível
Gotas de sangue tingem a roupa rasgada.
Do peitoril da janela, você me vê passar
Mas teu aceno é vago, frio e desaparece,
A tarde é calma, um outro sol se põe
Como se fosse o último dos sóis.
Barcos flutuam como almas perdidas,
És tão destemido — E crê na vida eterna —
Um pequeno lobo uiva em seu covil
De tuas pupilas  vertem gotas ácidas ,
Acende um incenso mirra, um grande olho
Mágico que pensa tudo ver, está cego
E nos deixa à deriva, vagando, vagando...

                                                                Agosto.2012

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Fragmentos 2



Toques mágicos, sem cor
Encobrem máscaras disformes.
Clara e melancólica manhã
Acordes repetidos, ressoam.
Batidas de coração — Anjos
Voam calmamente, seus sorrisos
Mórbidos se dissolvem no ar.


                                            Agosto.2012

E agora, onde vamos?



A boca que ri, absorta
O último que passa, sinos
Na capela, cordas, ritmos
Noite negra, lágrimas vãs.

Uma chance ao menos
Poderia tentar, não, não posso
De que adiantaria gritar,
A plenos pulmões, a glória.

Todos temos feridas a curar,
Uma vida só não basta
Talvez uma rota traçada,
Deixe traços de desespero.

Aonde quer chegar agora?
Teu vestido florido, ou raiva?
Todos temos perdões a dar
Mas de que adiantará?

Um cálice não mais sagrado,
Uma boca entreaberta, a fome
E sei que um vínculo permanece,
Ora forte, ora fraco....

Não me deixes agora, ou nunca
Tuas palavras já não enfeitam
Meu coração, meu lar, doce lar,
O que  fizemos de mal, ou de bem?

Toque a corda da vida, ou da morte,
Tudo nos espera, sempre, sempre
Já somos passado agora, tentar
Novos sonhos, não será possível.

Pai, Mãe, Avós, pretéritos mortos,
Uma criança chora, um anjo paira
Entre figuras geométricas, loucuras
Seria bom estar entre estas lacunas.

Todos temos feridas a curar,
Oh! Reis e Rainhas se foram,
Conte-me estórias de ninar,
Uma vida só não basta.....

Quando perceberemos que o amor,
Já se foi a muito, muito tempo,
Uma chance é o que pedimos agora,
Mas já é hora da morte, eu sei, eu sei...

Décadas se foram, deixaram marcas,
Teus lençóis brancos, o amor, uma crença
De que  tudo poderíamos — de que se gaba?
Acabaram-se as flores, restam lápides. 

                                                               Agosto.2012


sábado, 4 de agosto de 2012

Damas Brancas



Você prometeu que voltaria
E daria a volta por cima,
Mas por enquanto a terra gira
Tão rápida, só e vazia.
A dor nos olhos das pessoas,
Me faz sonhar com dias melhores
Mas sonhos são apenas chamas
De um fogo em extinção.
A tarde é calma — teus olhos voltam
E  já não podem ver, são as damas brancas
que sempre voltam, me espreitam.
Posso vê-las agora, muito  tarde para temer.
As palavras perdem-se no tempo e voam
Rosas amarelas à beira da estrada,
Uma febre me assola, cães abandonados
Farejam os rastros , e voam, voam
Rumo ao espaço, devoram-me, é inútil.
Há um caminho apenas, sob frondosas árvores,
E em seus galhos fortes, apenas forcas.
                                                                   Agosto 2012